No romance Percival ou "Le Conte du Graal", Chrétien de Troyes, descreve que o jovem guerreiro encontra um velho aleijado (foi ferido na coxa e tornou-se impotente), pescando à beira de um rio.
Mandado a um castelo cercado de terras estéreis a fim de passar a noite, Parsifal descobre que seu anfitrião é o pescador.
Então uma estranha procissão acontece:
"As tochas iluminavam a sala com tal claridade que não se podia encontrar um alojamento alumbrado com mais brilho.
"As tochas iluminavam a sala com tal claridade que não se podia encontrar um alojamento alumbrado com mais brilho.
Enquanto conversam à vontade, aparece um criado que sai de uma sala próxima, carregando uma lança de brancura deslumbrante...Uma gota de sangue pendia da ponta da lança e escorria até a mão do criado que a levava...
Então, aparecem outros dois criados, homens muito belos, carregando cada um em sua mão um lustro de ouro niquelado, em cada lustro brilhavam a ao menos dez círios.
Depois apareceu um graal entre as mãos de uma bela e gentil donzela, que seguia os criados.
Quando entrou com o Graal, se expandiu pela sala uma claridade tão grande que os círios empalideceram como as estrelas ou a lua quando sai o sol.
Atrás dessa donzela vinha outra, levando um ábaco de prata.
O Graal que ia adiante era do ouro mais puro; tinha pedras preciosas encrustadas, as ricas e mais variadas que existam na terra ou no mar; nenhuma gema podia comparar-se com o Graal." (Tradução francesa de Lucien Foulet, pp. 75-75).
O cortejo faz referência a três elementos: o Graal, a lança e o ábaco.
O Graal era transportado por uma mulher, assim como o ábaco, e esse último é de prata, o Graal é de ouro, ou ao menos tem o aspecto de ouro e brilha como o sol.
A lança que goteja sangue é um dos objetos mais maravilhoso da "busca celta", apesar da interpretação cristã tardia, pois trata-se da lança que teve Lug, que não perdia nenhuma batalha se a tivesse em suas mãos.
A lança que goteja sangue é um dos objetos mais maravilhoso da "busca celta", apesar da interpretação cristã tardia, pois trata-se da lança que teve Lug, que não perdia nenhuma batalha se a tivesse em suas mãos.
É a "Lança de Assal".
Também é a lança do herói irlandês Celtchar, filho de Utechar, personagem bastante estranho que aparece em certas epopéias secundárias do Ciclo de Ulster.
Celtchar, foi ferido por Cet, filho de Maga e tornou-se impotente.
Na narração de "A Morte de Celtchar, filho de Utechar", a mulher de Celtchar, Brig Bretach, o engana com Blai Briuga. Celtchar então, mata o amante, enquanto ele se encontra na mansão real jogando xadrez com Conchobar e Cuchulain.
Afunda a lança através do corpo tão bem que uma gota de sangue foi parar sobre o tabuleiro do xadrez.
Essa gota de sangue é importante, pois o lugar onde cai permite saber quem, se Conchobar ou Cuchulain, quem deve assumir a vingança contra Celtchar, pois este havia violado o direito de asilo e hospitalidade da mansão real.
Finalmente, Celtchar é condenado a limpar o Ulster de três pragas.
A primeira das pragas é Conganches mac Dedad, irmão de Curoi, que assola o país e contra o qual as lanças e as espadas não surgem efeito.
A primeira das pragas é Conganches mac Dedad, irmão de Curoi, que assola o país e contra o qual as lanças e as espadas não surgem efeito.
Celtchar arruma para casar com Conganches, sua filha, que curiosamente se chama Niam (Céu). Niam pergunta ao marido se há alguma maneira de poder matá-lo. Ele responde:
"Devem cravar pontas de vermelho vivo nas plantas de meus pés e em minha tíbias".
Com conhecimento desse segredo, o pai de Niam consegue matar Conganches.
"Devem cravar pontas de vermelho vivo nas plantas de meus pés e em minha tíbias".
Com conhecimento desse segredo, o pai de Niam consegue matar Conganches.
Celtchar ataca a segunda praga, que é um cão infernal que consegue matar mediante uma artimanha.
Finalmente, a terceira praga, também um terrível cão, será fatal para Celtchar.
Ele consegue matar o cão, porém ao retirar a lança do animal e brandi-la, uma gota de sangue do cão cai da lança ao chão e mata Celtchar.
O tema da gota de sangue no extremo da lança aparece aqui com tanta insistência que não é possível ver uma simples coincidência.
Existe no "Cortejo do Graal" uma reminiscência dessa misteriosa história de Celtchar, ou qualquer história do mesmo gênero?
Com certeza. Não só o tema do cão infernal, uma espécie de Cérbero que se expande pelo país dos vivos para devastá-lo, faz pensar na desolação do país do Graal, assolado e estéril, assim como o personagem de Celtchar, ferido em suas partes sexuais e vítima de sua própria lança, está em relação ao Rei Pescador, ferido no mesmo lugar e que ordena a famosa lança com uma gota de sangue em seu extremo no Cortejo do Graal.
Finalmente, existe uma história de vingança sanguinária, como no Graal primitivo. Enquanto o nome da filha de Celtchar, Niam, diz muito sobre as relações que unem Celtchar com o Outro Mundo, como o Rei Pescador, e não é impossível que a filha do rei, a portadora do Graal, que se converterá mais tarde na "Buscadora" cisterciense.
A mãe de Galaad, o sábio, seja o mesmo personagem mitológico que essa Niam, filha de Celtchar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário